Há tradições que contam a história de um território melhor do que qualquer livro, rituais que marcam a vida das comunidades há gerações e que, embora menos difundidos hoje, sobrevivem nas memórias e hábitos de quem gosta de manter viva a ligação com o passado.
Um deles é o “Pista” (também chamado de “Salata” ou “Porcina“), um termo dialeto usado na região de Marche para indicar o processamento de carne de porco e a preparação de salsichas. Para as famílias camponesas, esse ritual não era apenas um momento de produção de alimentos, mas um verdadeiro evento social, um dia em que a comunidade se reunia e compartilhava conhecimentos antigos.
Um tempo de espera e preparação
A época ideal para a Pista era o inverno, entre novembro e fevereiro, quando as temperaturas frias garantiam uma melhor conservação da carne. Segundo a tradição, o abate tinha que ocorrer durante os dias da lua minguante, fria e seca (como 30 de novembro ou 21 de dezembro). Havia também uma regra a ser respeitada: nunca mate o porco no dia 17 de janeiro, dia de Santo Antônio Abade, protetor dos animais.
Cada família criava pelo menos um porco, alimentando-o com cereais, bolotas, frutas estragadas, restos de casa e até a chamada “broda”, a água usada para lavar a louça (sem sabão, é claro). O animal cresceu perto da casa da fazenda, muitas vezes no mesmo estábulo que o gado ou em um chiqueiro dedicado. O porco representava uma fonte preciosa de sustento: sua carne alimentaria a família durante todo o ano.
Um ritual coletivo e familiar
O dia da Pista começou de manhã cedo. Os homens cuidavam do abate, enquanto as mulheres estavam ocupadas processando a carne e preparando as várias salsichas. Cada parte do porco tinha seu próprio uso: nada era desperdiçado. De presuntos a salsichas, de coppa a bacon, de torresmos e banha, tudo foi preservado com técnicas transmitidas de geração em geração.
A refeição final também foi um momento importante: o almoço no Pista foi uma oportunidade para saborear a carne recém-processada. Na mesa não faltava fígado, torresmo, pés e até sangue, cozinhados de várias maneiras de acordo com os costumes locais.
A Pista hoje: uma tradição que perdura
Se antes a Pista era uma necessidade para as famílias camponesas, hoje se tornou um ritual que algumas realidades rurais continuam a manter vivas, especialmente nas áreas mais ligadas às tradições. Em algumas famílias da região de Marche, o dia da Pista ainda coincide com a Epifania. Por exemplo, entre nós há quem se lembre que as crianças, no andar de cima, conversavam e brincavam com os presentes trazidos pelo Papai Noel ou pela Befana, enquanto no andar de baixo os adultos tinham a intenção de trabalhar o porco.
A Pista fala de um modo de vida simples e autêntico, onde a partilha e a valorização dos recursos foram fundamentais. Um pedaço da cultura Marche que merece ser conhecido e lembrado.